Formado pela dupla de DJs e produtoras musicais Bruna Ferreira e Livia Lanzoni, o projeto From House To Disco vem cada vez mais tomando força e reconhecimento dentro e fora do Brasil. Com uma identidade sonora única e muito envolvente, o projeto viaja pelas diferentes sonoridades, trazendo o que há de melhor e mais refinado na House Music e Disco.
As artistas, que somam mais de 10 anos de experiência nas pistas de dança, vem construindo um catálogo forte de produções autorais, com tracks que reforçam sua identidade musical. Passando por gravadoras como Alphabeat Records, Cocada Music e Diversall Music, as meninas já receberam grandes suportes de nomes como Jamie Jones, Renato Cohen, Trepanado e DJ T., prometendo ser só o começo de uma longa e frutífera jornada musical, cheia de emoção e referências aos anos 80 e 90.
Nosso Go Girl de hoje é com elas, Bruna e Livia do From House To Disco! Confira o papo:
Começando do começo, como cada uma de vocês começou sua relação com a música, e mais especificamente, com a música eletrônica?
"Veio de casa, com certeza, das referências dos nossos pais, que pra nossa sorte, tinham excelente gosto musical (hahahaha). Mesmo em casas distintas, crescemos ouvindo artistas como Depeche Mode, New Order, Pet Shop Boys, Whitney Houston, Madonna, Michael Jackson, Donna Summer, entre outros grandes clássicos. E claro, é inegável a influência da música eletrônica em todos eles. Já na adolescência, essa paixão aflorou quando começamos a circular por festivais como Nokia Trends, Tim Festival, Planeta Terra, Skol Beats e posteriormente, frequentando clubes que fomentaram a cena efervescente da música eletrônica em SP, como o Vegas, Clube Glória, Madame Satã, A Lôca, Atari, Hot Hot, entre outros. Foi essa mistura que fez a base da Livia e da Bruna hoje."
Agora pensando no projeto, como tudo começou? Como vocês se conheceram, e qual foi o clique para o From House to Disco surgir?
"É divertido como as pessoas ficam curiosas pra saber como tudo começou, adoramos contar essa história, mas prometemos resumir da melhor forma: nem todo mundo sabe que somos um casal e isso é engraçado, porque de fato nunca foi o foco, mas a verdade é que muito da essência do From House to Disco existe por conta dessa intimidade."
"A nossa história começou há sete anos, em um grupo de amigos em comum. A conexão foi instantânea, pois éramos as únicas apaixonadas por música eletrônica e adorávamos falar sobre isso o tempo todo. Como ambas já tocavam, aproveitávamos para trocar figurinhas. Isso nos aproximou muito, a ponto de surgir um carinho especial. Podemos dizer que a música foi uma das grandes responsáveis por estarmos aqui hoje, antes mesmo de pensarmos em ser uma dupla."
"E já como um casal, mesmo compartilhando admiração por muitos artistas, bandas e DJs em comum, cada uma sempre teve uma personalidade musical mais aflorada: Livia era mais da disco; já Bruna tinha suas raízes na house. E, por brincadeira, começamos a misturar esses e outros ingredientes nas tocadas em casa e gostamos da fórmula. Daí veio a brincadeira com o nome From House to Disco: foi uma forma de dizer que entre a Livia e a Bruna existem diversas outras vertentes, e adoramos brincar com essa sonoridade fluída. Contando assim até parece que foi tudo muito rápido, mas a verdade é que o FHTD só nasceu depois de três anos de namoro e muitas sessions em casa."
Além da música, que outras artes inspiram vocês, e levam como referência para o projeto? Quais são as artistas, sejam escritoras, fotógrafas, dramaturgas, artistas plásticas, que servem de inspiração para vocês?
"Bebemos muito das décadas de oitenta e noventa, sem sombra de dúvida, então podemos dizer que as capas de álbum dessa época são uma grande inspiração estética, principalmente falando de álbuns de kraftwerk, bjork, pet shop boys, depeche mode, entre outros. Adoramos o trabalho do Andy Warhol, por exemplo, que fez capas para Rolling Stones, Aretha Franklin, entre outros grandes nomes. Muitas vezes, o nosso contato com a música também vinha dos filmes, como Blade Runner, Trainspotting, Pulp Fiction, Matrix, Requiem For Dream e até Batman, que teve trilha e produção assinada por Prince. Isso fez com que a gente se apaixonasse por diretores como Tarantino, Danny Boyle, Tim Burton, entre outros. Uma coisa está conectada a outra. Um fato curioso: conhecemos Orbital na trilha sonora de Mortal Kombat, o Filme, que aliás é excelente."
Vocês vem desenvolvendo uma identidade sonora bem voltada aos anos 80 e 90, com um toque muito próprio. Quem são os artistas que mais servem de referência para vocês quando trabalham no estúdio?
"Quando vamos para o estúdio, sempre vamos com uma ideia na cabeça e essa ideia tem como referência algum instrumento deste período. Em Holidate, por exemplo, queríamos trazer uma pegada bem oitentista, então para criar essa atmosfera partimos do kit de bateria 707, muito usado por Donna Summer, New Order e Madonna; Já em Fizzing, estávamos obcecadas com a sonoridade do acid house, então fomos buscá-la no famoso sintetizador TB303, usado em clássicos como French Kiss, House Nation, Voodoo Ray entre outros. Na prática essa dinâmica funciona muito bem pra gente, porque conseguimos trazer a sonoridade que queremos através de timbres de instrumentos clássicos dessa era, mas repaginados com a nossa identidade."
O último lançamento de vocês foi um super EP com direito a remix do Benjamin Ferreira e ainda chegando pela Massa Records, do Renato Cohen e do Fernando Moreno! Como foi o processo criativo de vocês no estúdio produzindo "Electr.Ode", até chegarem no remix do Benjamin e a assinatura na Massa Records?
"Cara, foi surreal de incrível. Bem, tudo começou com duas pessoas que são referências pra gente: o próprio Benja Ferreira, que consideramos um padrinho; e o nosso engenheiro de som, Guilherme Lopes, do duo Drumagick, que são sempre as primeiras pessoas a ouvir as novas músicas. Ambos já trabalharam com o Renato Cohen e sabiam da nossa vontade de fazer parte do círculo, e quando ouviram o rascunho de "Ode", super incentivaram a mandarmos a track pra ele. Então arriscamos: enviamos e pedimos um feedback. Para a nossa surpresa, ele curtiu a track, pediu alguns ajustes e sugeriu de lançarmos um EP, com mais uma original e um remix. Corremos nos ajustes e, em paralelo, buscamos as referências para compor a "Fizzing". Quando fechamos as duas e tivemos o ok final dele, partimos para o remix. O próprio Cohen sugeriu ser o Benja e amamos, claro. A ideia era que ele soltasse a mão e mostrasse um outro lado artístico. E ele seguiu à risca o brief: trouxe uma versão miami bass enxuta e cheia de reverberações para "Ode", um sucesso nas pistas. Não poderíamos estar mais realizadas."
O que podemos esperar de From House To Disco para o começo de 2023? Tem alguma novidade especial que possam contar para a gente?
"Muita coisa legal já tem acontecido. O ano de 2022 foi incrível pra gente, passamos pelo Rock in Rio Lisboa e Brasil, dividimos line com Danny Daze, Eli Iwasa, Pawsa, Claptone, Gop Tun e Vintage Culture, lançamos pela Cocada Music e pela Massa Records, entramos na Smartbiz e vamos fechar o ano estreando na Festa Selvagem, especial 10 anos. Para 2023, já temos uma nova tour na Europa no radar e um novo EP no forno, mas não podemos contar mais nada por agora."
- FICHA GO GIRL FROM HOUSE TO DISCO
- Nomes completos: Bruna Ferreira Vasconcelos; Livia Lanzoni
- Onde nasceram: Bruna de São Paulo; Livia de Ubatuba, litoral de SP.
- Música favorita da vida: "Somos duas, vale duas, né? Dance With Somebody, da Whitney; e Halcyon On and On, do Orbital.
- Collab dos sonhos: podemos dizer que já realizamos uma collab dos sonhos com a maravilhosa Mari Rossi, quando fizemos o remix para "Daquilo", de Jairo Pereira. Mas claro que, como todo produtor, temos uma lista de artistas com os quais adoraríamos fazer algo, como por exemplo o próprio Renato Cohen e a talentosa Mary Olivetti. Pensando em artistas internacionais, Cinthie, Theo Kottis, Tilman e Coeo também seriam épicos."
Leia também: Go Girl #45: Aline Rocha e a House Music em sua forma mais pura