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Aniversário do Warung: 17 anos do club

Redação We Go Out
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Em 2002, o espírito balinês uniu-se à paradisíaca praia Brava, de Itajaí, com a construção do Warung Beach Club. Desde então, é destino certo dos apreciadores de música eletrônica e, rapidamente, tornou-se referência internacional no meio. sem subestimar o poder das palavras, compreender o que o torna tão especial só é possível com a experiência.

Eleito pela mídia especializada como “um doslugares para conhecer antes de morrer” e um dos “três melhores clubs do mundo”,o Warung é um lugar para se frequentar, reunindo, durante essas quase duasdécadas, noites e manhãs dignas de um documentário.

O club, cujo assoalho de madeira foi cúmplicede grande parte da minha história e poderia facilmente ocupar uma prateleirainteira nos registros da minha memória, evoca uma nostalgia irremediável das noites emocionantes com meus grandes amigose com aqueles que conheci por lá – foram muitos “amigos porção única”, mas,também, pessoas incríveis que levo até hoje. Ali, ainda, testemunhei o nascimentode muitos amores – do primeiro encanto, até o pedido de namoro e casamento.

Nos primeiros anos (sou frequentadora desde2005), antes da aquecida especulação imobiliária, o club reinava absoluto naregião. Não se via com frequência a casa em sua lotação, as festas começavammais tarde, sem hora para acabar. No primeiro aniversário, inaugurou-se oquerido “Warung Garden”, com umaproposta distinta e complementar à pista principal ou “Main Room”.

Nesse meio tempo, tantos clubs abriram, outrostantos fecharam. O Warung, acompanhando uma sociedade que está a todo momentoconstruindo-se e desconstruindo-se, também foi se renovando – não apenas emestrutura (antes, sem camarotes), mas, também, em seu direcionamento artístico,adaptado às demandas do público e às tendências da música, sem perder o frescore a autenticidade impressos desde o começo.

Quantas vezes saí de lá falando que foi “a melhor noite da minha vida”. Em 2011,como esquecer do Ricardo Villalobos, em uma festa que durou nada menos que 17 horas,com meu ídolo começando às 6 da manhã no Maine terminando no fim da tarde, no Garden.E o que falar de noites com Josh Wink, Laurent Garnier, Richie Hawtin, PetreInspirescu, Craig Richards, Guy Gerber, Deep Dish, Booka Shade, Trentemoller edo trio romeno a.rpia.r (Pedro, Rhadoo e Raresh) em 2007?

Enfim, voltando ao presente, este fim de semanaparticipei dos 17 anos do Warung. Como festa boa é festa em dobro, há 7 anos éde praxe que os aniversários ali sejam festejados em dois dias. Por questão deagenda, só pude ir ao primeiro dia (15 de novembro), mas ouvi de muitos que osegundo (16) foi igualmente incrível.

A curadoria acertou em cheio em váriosquesitos. Na sexta, mesclou estreias muito aguardadas, como Peggy Gou e Honey Dijon, com oveterano, Solomun (em set estendido)e os consagrados brasileiros Boghosian, Fran Bortolossi e LK (projeto que uneninguém menos que Léo Janeiro e Kaka Franco). Já o sábado ficou por conta doídolo Richie Hawtin, da djbrasileira mais requisitada do momento, ANNAe de um time muito bem selecionado (Khen, Lee Jo Life, Renato Ratier,Albuquerque e Eli Iwasa).

Nessa edição, destaque absoluto às mulheres - em total sintonia com o momento,que clama pelo merecido reconhecimento das djs e produtoras do sexo feminino,bem como por um ambiente de celebração da inclusão e da diversidade. Peggy, Honey e ANNA deram um show à parte em matéria desensibilidade, musicalidade e técnica. É essa combinação de estilo, talento,bom gosto e comprometimento das meninas que está redefinindo o “ boy’s club” por trás dos decks.

Na sexta, cheguei por volta das 22h e, à luz deuma lua cheia generosa, já comecei a me empolgar com o warm up do Leo e do Kaká (LK)na pista Garden - dois dos veteranosmais respeitados do país. O set foi energético e entusiasmado, recheado declássicos da house music, já entregando a pista bastante animada para receber umadas headliners mais esperadas, Honey Dijon.

Pouco depois da meia noite, foi a vez dacultuada dj norte-americana, de ascendência africana, trans e ativista domovimento queer, assumir o comandoe... gente, que mulher! Em três horas de um set pra lá de emocionante, Honey conseguiu suspender a realidade(quem lembra dos boletos não pagos essas horas?) e criar um pistão, sem deixara bola cair em momento algum. Fruto de sua ampla pesquisa, ela alternou umrepertório de tracks desconhecidascom outras bastante conhecidas, como “ Womanof The Ghetto” de Marlena Shaw, um remix de “Vogue” da Madonna e, como se não pudesse ser mais perfeito, finalizoucom meu clássico favorito da lenda Giorgio Moroder na voz de Donna Summer, “ I feel love”.

Posso dizer que a americana conseguiu umperfeito diálogo emocional com a plateia - para mim, particularmente, foi amelhor da noite ( come back, Honey!). Finalmente,a coreana e atração do momento, PeggyGou, pegou a difícil missão de comandar até o amanhecer uma plateiaenlouquecida com a apresentação anterior.

Peggy fez um set bastante variado, alternando housee techno, momentos animados, velozes, hipnóticos, dramáticos, batidas quebradase abstratas, mantendo a pista cheia do começo ao fim. Foi de “ Only Human” do Four Tet, ao techno “ Kawasaki” de 2000 and One, passando por clássicos,como o remix de “ At Night” deShakedown, sem deixar de tocar suas tracksautorais, como “ Starry Night”.

No Warung, a imersão costuma ser tão intensaque, não raras vezes, o nascer do Sol aparece como uma surpresa – “mas já?”. Aofinal, como não poderia deixar de ser, o público retribuiu a entrega dasartistas com palmas e gritos que lembram vitória em final de campeonato,deixando implícito o convite “meninas, voltem logo porque vocês já são decasa”.

Quando dei por mim, percebi que não consegui tirar o pé do Garden. Tenho certeza que o grande encarregado da noite de conduzir o pistão, o dj e produtor Solomun, nos seus quase 20 anos de história na música eletrônica, despertou em seus fãs sensações semelhantes.

Em retrospectiva, o Warung já conquistou o status de clube lendário e é uma marcaconsolidada, que soube se adaptar aos desafios, sem perder sua essência.Prestes a alcançar “a maioridade”, encerra-se simbolicamente um ciclo, dandoinício a uma nova etapa, que exige ainda mais planejamento e responsabilidade,em especial diante da expansão imobiliária nos arredores, da crescente burocraciaestatal e do estigma que ainda carrega a cultura da música eletrônica.

Para superar tudo isso, o club conta com o apoio de um público muito fiel e apaixonado – quefaz a casa atingir lotação over and over,nessa intersecção de universos particulares que torna o presente muito maisleve e verdadeiro.

Sinto-me privilegiada por ter feito parte dopassado, viver o presente e esperar que tudo isso ainda seja pouco perto do quevem por aí!

Feliz aniversário, Templo!

Texto por: Carla Kons

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