Dizendo que nasceu para fazer as pessoas dançarem, Ella De Vuono vem construindo sua história na música eletrônica. Em quase 20 anos de carreira, o que não falta para a artista é autenticidade. Conhecida por seu talento na arte da discotecagem (reunindo técnica, feeling e repertório), ela também é uma das figuras mais conhecidas na luta pela equidade de gênero na cena. Ella De Vuono estreia no TOKKA Pride no dia 24 de Junho!
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À frente dos decks com pinturas corporais e sets versáteis, ela já tocou em grandes festivais, como Rock in Rio e Universo Paralello, e em club pequenos e intimistas. Mas neste sábado, 24 de junho, é um dos nomes do TOKKA Pride, um dos maiores eventos LGBTQIA+ do país.
Em conversa exclusiva com a artista, falamos sobre carreira, show e luta. Confira:
Oi, Ella! Tudo bem? Obrigada por falar conosco! Para começar, neste sábado (24) temos o TOKKA Pride. É sua estreia na label party, certo? Para você, é diferente tocar em um evento LGBTQIA+? Ou sente que a cena da música eletrônica brasileira está abraçando a diversidade na maioria dos eventos? Senão, o que está faltando para que isso seja possível?
Oi! Tudo ótimo, é minha estreia sim.
É diferente, mas não muda nada na minha entrega, mas sim o ambiente em si. A pluralidade de um evento faz com que ele seja mais leve e principalmente, mais seguro para pessoas que estão sempre atentas para algum tipo de violência ou assédio.
Não acho que a cena está abraçando a diversidade não, muito menos a maioria. É uma minoria que se preocupa com isso de fato, a maioria continua muito longe de uma realidade com equidade de gênero, racial e étnica.
Está faltando poder para as minorias, como sempre faltou. Enquanto quem estiver ali no topo da cadeia não for alguém com as mesmas dores, nada vai mudar.
Conta pra gente: o que podemos esperar do seu set no Faísca Stage? E o que teremos de novidade com relação a lançamentos em 2023 nesse show?
Sabe que eu não sei? Eu não preparo set, eu apenas chego lá com minha pesquisa sempre atualizada e sinto o que mais vai se encaixar com o momento, essa é a verdadeira arte da discotecagem. Ler a pista, o ambiente. Então, sinceramente, se eu trouxer qualquer spoiler aqui, pode ser completamente diferente do que realmente vai ser.
Eu vou tocar bem cedo, estou no segundo slot do palco Faísca, então acredito que seguirei uma linha bem deep, soulful e disco.
Todos meus lançamentos de 2023 estão um pouco mais pesados e acelerados e não condizem com o horário que vou tocar, então não terão muitas autorais também. Mas bem provável que eu toque meu bootleg de "Minha Verdade" de Dona Ivone Lara que deu o que falar na Laroc.
O TOKKA busca oferecer uma pista inclusiva e segura para todos, assumindo diversos compromissos, como, inclusive, a equidade de gênero em um line-up 80% feminino. Você, recentemente, fez a curadoria da EXPO E-Music & Arts, que também brilhava a diversidade entre os palestrantes. Sabemos que você nasceu pra fazer as pessoas dançarem, mas essas pautas também são importantes em sua carreira? De que modo interferem no seu papel como artista?
Claro, é uma bandeira que eu carrego e o preço disso é muito alto, mas eu resisto pois é tudo que sou. Acho até um pouco antagônico estar inserido numa cultura que nasceu preta e LGBT+ e não se preocupar com essas pautas, não se incomodar com line-ups 100% brancos. Por isso, estudar e entender a história da dance music, deveria ser obrigatório para quem pretende trabalhar neste ramo.
Não sei dizer se interferem pois, como eu disse, é tudo que sou. Então é inerente a mim. Confesso que, às vezes, gostaria até de não me preocupar tanto com essas pautas, pois demanda uma energia gigantesca, mas no fim do dia, não fazer nada demanda uma energia maior ainda.
Aliás, são 18 anos de carreira, que englobam as diversas facetas como DJ, professora, produtora, performer… que nunca passam despercebidas! E vemos uma grande fase atual de carreira, com show no Rock in Rio, estreia no Laroc - um dos clubs mais famosos do mundo -, e logo uma turnê pela Europa. Com o que mais sonha para seu futuro na música?
Eu sonho mesmo com o meu presente, pois apesar de tantas conquistas, o desafio de se viver da música neste mundo é gigantesco.
Mesmo com tudo isso que vocês citaram, eu ainda passo muita dificuldade, não tenho uma consistência de trabalho que me dê o mínimo de estabilidade. É uma luta absurda para se conseguir ter o básico e um investimento abissal para se manter relevante no mercado.
Meu sonho é esse, conseguir viver confortavelmente com o meu trabalho, que não seja uma luta de sobrevivência. Depois de quase 20 anos fazendo isso, me dedicando, estudando, entregando uma experiência inesquecível, eu só gostaria de ser realmente valorizada no mercado.
Para terminar, sabemos que a raiz da música eletrônica está na cultura negra e LGBTQIA+, mas que isso se perdeu com o tempo, ou pelo menos foi esquecido pela maioria. Na sua opinião, o que podemos fazer (ou pelo menos o que você tem feito) para resgatar isso?
Temos que olhar para trás, estudar e entender a história da dance music. Uma vez que se compreende que as raízes são pretas e LGBTs, mais e mais pessoas passarão a sentir um desconforto enorme com line-ups 100% brancos, cisgênero e masculinos.
O que eu faço é me posicionar, nos meus sets sempre uso acapellas que trazem esse questionamento, ou então levo uma performer preta e LGBT comigo (vide Rock in Rio e Tusca), faço trabalho com artistas indígenas ou uso uma roupa com alguma mensagem (vide Laroc).
E como professora, não só ensino história como reforço para todos os meus alunos a importância da diversidade na cena.
Bruna Antero
Pós-Graduação em Engenharia de Marketing (USP); Graduação em Administração (UFPR PR); 13 anos de experiência nas áreas de marketing, trade e vendas. Onde encontrar: em algum palco underground explorando novos artistas e em alguns afters