Entrevista | Bruno Martini e Soldera abrem o jogo sobre "Sambassim"

Soldera e Bruno Martini apresentaram na última sexta-feira dia 15 de dezembro, sua nova collab, a releitura de um clássico histórico dos primórdios da música eletrônica de pista no Brasil, “Sambassim”, canção de Fernanda Porto, que recebeu um remix do DJ Patife.
Pela Universal Music, o remix do clássico, que misturava drum’n’bass com bossa nova e ganhou o mundo em 2002, transforma a música em uma densa pérola de afro house melódico, com a inserção de percussões de samba e sintetizadores gravados em estúdio.
Batemos um papo muito especial com Bruno Martini e Soldera que compartilharam bastante dos bastidores dessa produção icônica! Vem conferir!
Contem um pouquinho da ideia desse lançamento, imagino que vocês devam estar super orgulhosos, eu acredito que seja um dos marcos dos últimos lançamentos de vocês e uma música tão popular dentro do início da música eletrônica, né, estamos falando de um remix de drum n' bass de 2002 e agora estamos em 2023. Como é que foi essa concepção desse novo remix?
Soldera
Em dezembro do ano passado me programei pra fazer bastante música com vocais em português e comecei a fazer uma pesquisa de campo com músicas do gênero, que já tinham rolado para remix. Cheguei na "Baianá" na "Baião" que eu tive remix esse ano
na "Rio" e cheguei na Fernanda Porto. Quando eu cheguei na Fernanda Porto, comentei numa aula de música que estava fazendo e um rapaz falou 'pô eu já toquei guitarra pra ela na banda, eu conheço!' Aí ele fez a ponte pra Fernanda, e ela super querida, super acessível. Ela gostou da ideia e de fevereiro até agora eu fui tentando inúmeras versões e nada ficava bom. Por coincidência no dia do Tomorrowland Brasil, que eu não toquei, encontrei o Bruno e a gente já tava conversando para fazer um som juntos. Nessa hora percebi que era a hora certa, no momento certo porque eu tenho O vocal. Não estava conseguindo fazer ele ficar bom com nada, procurei ajuda com músicos e tudo, mas não achava uma solução pra ele, aí marcamos com a Fernanda no estúdio. O Bruno teve a ideia de mudar alguns acordes, gravar, e aí do nada o negócio apareceu. Ele tomou um rumo diferente que finalmente agradou a nós três.
Eu queria saber Bruno, como é que você teve essa sacada de trazer esses elementos orgânicos, Afro House, Progressive House uma coisa que tem uma característica tão forte?
Bruno
Esse ano eu tive um problema sério de saúde no começo do ano, e aí fiquei um pouco longe da cena, primeiro para me cuidar, mas também foi importante porque consegui explorar mais dentro do estúdio, criar novos sons já que eu não tava muito contente como eu estava seguindo minha carreira. Decidi seguir uma linha de som nova, sair produzindo coisas diferentes e realmente acho que tô imerso nesse processo de mudança. Nesses últimos dois, três meses eu resolvi voltar e foi quando a gente se encontrou no Tomorrowland. Começamos a falar e ele comentou da oportunidade dos vocais de "Sambassim", sugeriu a collab e começamos. A faixa, a versão do DJ Patife, é muito icônica dentro do cenário, foi uma das primeiras que bombaram também fora do Brasil, muito sucesso em Londres, e por incrível que pareça o Patife sempre foi um grande amigo meu.
No estúdio, ouvimos tanto a versão original da Fernanda quanto o remix de Drum n' Bass do Patife, e então sugeri que a melhor forma de fazer essa versão seria zerar todas as associações que temos sobre ela, e começar do zero. Dessa forma a gente conseguiria extrair a essência da "Sambassim" mantendo toda a originalidade, e que funcionasse nas pistas. A nossa ideia era fazer uma faixa realmente que agrade os DJs, que a galera queira tocar sabe… O desafio era como fazer isso de uma forma atual, moderna, sem perder a essência da música; porque é uma faixa muito icônica, então quem tentar fazer uma nova versão, vai se ver de frente com esse desafio, de fugir das referências já conhecidas.
Eu até antes de lançar, mandei um um áudio pro Patife, e falei que fiz uma versão de "Sambassim", e que queria mandar por todo respeito que eu tenho a ele… E me respondeu falando 'pô, se é vocês que estão fazendo, eu fico feliz de que a faixa vai tomar uma roupagem nova!' Foi super legal o apoio.
Ele deu e aval, então?
Bruno Martini
Deu, deu o aval!
E aí então quando colocamos a mão na massa a ideia era manter a essência da faixa, mas trazer uma pegada original com sons brasileiros, afinal a track se chama "Sambassim". Gravamos uma cuíca, gravamos bastante percussão pra ter essa pegada, mais pro Afro House, essa linha, mas ao mesmo tempo ter uma coisa brasileira na faixa. Eu não queria usar os violões porque eu sei que se usasse os vilões ia levar pra outro lugar. Inclusive no meio da música da versão original ela tem uma mudança de tom, e às vezes na música eletrônica pro estilo de som que a gente tá fazendo mudar a tonalidade no meio do da música pode ser um pouco não convencional, e também foi uma discussão que a gente teve. E enfim, surgiu essa versão de "Sambassim" que a gente lançou e tô muito orgulhoso dela.
Inclusive esse fim de semana toquei e cara, é impressionante quando toca ela é muito legal!
Isso vocês vão sentir isso muito ainda né agora Réveillon né, a faixa vai se conectar muita gente; acho que a hora foi a hora certa do lançamento!
E como foi com a Fernanda? Rolou uma regravação dos vocais?
Soldera
A Fernanda foi super acessível desde o começo, me mandou os vocais e tudo. Desde o começo uma coisa que o Bruno fez e que mudou toda a trajetória do som foi mudar os acordes, depois de bastante teste e discussão, quando o Bruno sugeriu, entendemos que era a melhor solução.
Outra parte genial foi a sugestão que ele deu para todos nós entrarmos na sala de gravação e gravarmos o coro falando "sambassim", e até eu fui lá no meio cantar, deu uma energia diferente para a faixa.
Me falem o que qual a expectativa de vocês pra música fora, assim em questão de suporte, aceitação do público, vendo esse esse crescimento do estilo, várias músicas com o vocal brasileiro indo super bem lá fora, e como é que vocês estão com as expectativas disso?
Bruno Martini
A gente foi meio na loucura de lançar porque sabia que era o momento, e mesmo que a gente não tenha se planejado tanto, eu queria soltar ela o mais rápido possível. Mandei pra alguns amigos DJs já e o feedback foi muito positivo.
A gente tá fazendo mais um trabalho de base mesmo espalhando pra galera, pros amigos. Ano que vem tenho uma agenda de shows fora do Brasil marcada aí pro final do carnaval, julho, verão europeu, Estados Unidos, então acho que conforme a gente vai tocando ela aos poucos as pessoas vão conhecendo mais.
A galera valoriza muito o samba, coisa do da música popular brasileira e isso somado com esse gênero que tá super em alta, o Afro House, mas fazendo isso de uma forma um pouco mais brazuca ali trazendo cuíca, o samba tal, e com certeza é uma coisa que só a gente faz no mundo inteiro. Eu até chamei músicos de samba para gravar junto com a gente, então gravamos percussão ao vivo, foi super legal o processo. A Fernanda entrou na sala de gravação, depois todo mundo cantando. Gravamos tudo de novo, ela até mudou a letra um pouco: tem a parte que ela fala 'drum n' bass' e ela fala 'e com vocês'. Isso foi uma coisa que ela quis mudar porque afinal não era uma track de drum n' bass e ela tava super afim de fazer. E foi um processo muito legal, foi uma decisão de fazer uma faixa que a gente e todo mundo queira tocar.
Soldera
Só complementando aqui sobre suporte, hoje, quinta feira 21 de dezembro às quatro e trinta da tarde, nós somos #19 no Beatport com a "Sambassim"!
Tenho certeza que se a gente tivesse fazendo uma entrevista amanhã depois da manhã isso aí vai tá cada vez mais próximo do topo!
E desde então vocês já começaram a brincar em outras músicas, vão seguir aí essa parceria pra dois mil e vinte e quatro?
Bruno Martini
O Soldera me apresentou uma cantora muito talentosa que se chama Lau, e então estamos trabalhando em mais uma! Eles me apresentaram ideias de música e eu quis muito mexer em algumas delas! Sou muito grato por estar mais próximo do Soldera, que é um grande amigo meu; quando era mais novo via ele tocar direto! Muito legal poder fazer música e se divertir no processo.
Fluiu tudo muito bem a produção, as nossas linhas de pensamento na track, a gente se respeita muito bem nessa parte difícil.
O Bruno comentou do ano que vem que tem tour nos Estados Unidos, Europa, shows por aqui… Soldera, como é que tá a tua agenda, o que você tem programado com shows e estúdio?
Soldera
Não sou muito de dar spoiler porque senão depois não acontece! Mas já tem show internacional pro ano que vem, DJs f**** que vem ao Brasil ano que vem também baixaram a "Sambassim" que eu tenho certeza que vão tocar. De futuro certo agora tenho duas músicas muito legais para lançar em janeiro com Natema e outra com o Mehen, essa nova com o Bruno e com a Lau, e por enquanto, chega de spoiler!
E aí Bru, onde podemos aguardar você?
Esse ano foi um ano muito maluco pra mim né, por conta do problema de saúde fiquei mais longe dos palcos, mas com certeza ano que vem vou voltar com tudo!
Tem muita música nova que que agora eu vou soltar, eu vou me dedicar 100% num tipo de sonoridade que me encontrei e tô muito empolgado porque sinto que agora EU tô fazendo uma coisa que gosto muito.
Em janeiro tem uma mega surpresa muito legal que eu não posso falar ainda, mas vocês vão curtir muito. Vai ser um lançamento muito importante!
Confira "Sambassim" agora!
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Graduado em Publicidade (ESPM-SP); DJ e produtor musical no projeto Apollorabbit. Onde encontrar: nas pistas mais obscuras e com sons cabeçudos