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Entrevista com Cláudio da Rocha Miranda Filho, Co-fundador do RMC

Jode Seraphim
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Depois de participar do RMC Curitiba, fomos também para a edição de São Paulo, onde tivemos a oportunidade de entrevistar o co-fundador e diretor executivo do Rio Music Conference, a maior conferência de música eletrônica da América Latina, Cláudio da Rocha Miranda Filho. Confiram na íntegra:

A Melhor Balada: O RMC surgiu há muitos anos atrás, e sempre aconteceu em uma data próxima ao carnaval. Como surgiu a ideia de fazer uma conferência de música eletrônica em um momento em que o Rio de Janeiro é tão ocupado por outros tipos de eventos?

Cláudio: Isso, vamos voltar um pouquinho no tempo, para 2009. Primeiro, a indústria da música naquele momento tinha se renovado completamente com a internet. Naquela época, o físico, CD, disco, que era o modelo das gravadoras, tinha acabado, e as formas de produzir, escutar e compartilhar música estavam se reinventando, e assim surgiu a necessidade de ter um ponto para discussões. Por outro lado o entretenimento presencial, o show business e a própria dance music se tornavam uma cultura globalizada e que estava começando a acontecer no Brasil. Turnês do Fatboy Slim e do Guetta estavam vindo para cá com valores astronômicos, mas ainda faltava um ponto de contato. O Brasil, diferentemente de outros países, tem uma dimensão de um continente, então se viu com o RMC que profissionais de clubs, de agências e managers de artistas estavam se encontrando pela primeira vez para falar sobre aquilo que era a vida profissional deles.

Outros dois aspectos legais da pergunta são: por que carnaval, e por que ser no Rio de Janeiro. Apesar de lá não ter uma cultura de clubs ou de música eletrônica tão forte, a ideia era escolher uma cidade com sex appeal. Quando pensamos em gringos vindo para o Brasil, a cidade mais escolhida é o Rio de Janeiro. Já o carnaval é tido como a maior festa do mundo. A música eletrônica, o entretenimento presencial e os festivais, nada mais são do que uma grande festa, então a gente achou também simbólico fazer próximo da maior festa que o Brasil tem, que é o carnaval do Rio de Janeiro. Até hoje alguns ainda nos olham com uma interrogação, mas estamos aí caminhando para a nona temporada e acho que acertamos tanto na cidade quanto na época. Também com relação a época, a gente estudou outros eventos setoriais da industria internacional e como sempre teve a pretensão de se tornar um ponto latino-americano de contato,  vimos que fevereiro não era forte para esse tipo de eventos então se mostrou uma época boa, sem concorrência internacional.

A Melhor Balada: Este ano foram três edições: Rio de Janeiro, São Paulo e Curitiba. Por que três edições nessas cidades específicas e qual o plano para o ano que vem? Continuam nas três cidades ou farão mais eventos pelo Brasil?

Cláudio: Nos três primeiros anos nós chegamos a visitar 11 cidades apresentando o Rio Music Conference e falando: olha, aquele encontro que acontece em fevereiro é um encontro nacional e internacional, todos da indústria brasileira tem que participar. No final desses encontros a gente fazia um bate papo local para discutir a cena da cidade, como estavam os alvarás, os clubs, as festas. As discussões eram apimentadíssimas, tinham assuntos particulares e diversamente contrastantes de norte a sul do País, então a gente começou a dar um pouco mais de musculatura a esses encontros regionais, trazendo mais assuntos particulares àquela região, até que chegamos na formatação de ter uma edição por região. Durante três temporadas fizemos uma edição em Belém no Norte, Recife no Nordeste, Brasília Centro-Oeste, São Paulo no Sudeste e Curitiba no Sul. Neste ano, por uma limitação orçamentária do projeto, nós redesenhamos e aí fizemos Curitiba como uma perspectiva Brasil, aqui em São Paulo a edição latino-americana, e o Rio de Janeiro, como sempre, com a edição principal, global, que reúne o maior número de atividades e convidados, assuntos internacionais, que recebe os gringos todos, enfim, uma série de painéis super interessantes da indústria e da cena global.

A Melhor Balada: Vocês estão sempre no ADE (Amsterdã Dance Event), estão sempre procurando novidades fora do Brasil. Quais são as principais influências que vocês trazem para o RMC acontecer?

Cláudio: Eu não tenho dúvida que a gente conseguiu uma legitimidade e reconhecimento internacional no momento que nos empenhamos em fazer essa expansão e essa conexão com outros eventos setoriais. Nós tivemos escritório internacional em Paris durante três anos, hoje temos um em Miami, e um dos objetivos desse escritório é fazer associações desses outros encontros, que tem por seu DNA também a missão de conectar os participantes com a indústria. Hoje temos uma parceria muito ampla com o ADE. Nós trazemos estagiários do ADE para estar conosco no RMC, também mandamos pessoas da organização para lá. Nós temos o RMC house dentro do ADE, sem dúvidas é um grande parceiro. Também temos parceria com o IMS, International Music Summit que acontece em Ibiza como locação principal, e o EDMbiz em Las Vegas. Todos são encontros como o RMC, e não só temos conexão entre os participantes mas também com relação aos temas. Estamos sempre atualizados do que está acontecendo lá, ao passo que eles também estão conectados com o que está acontecendo aqui. E no Rio principalmente, já que a gente reflete um panorama global do que está acontecendo no mundo.

A Melhor Balada: O que podemos esperar do RMC no Rio de Janeiro ano que vem?

Cláudio: Será a maior das edições, já que nós ampliamos nossa atuação no Museu de Arte do Rio. É muito simbólico estarmos levando a música eletrônica para dentro da estrutura de um museu, e vai ser a sexta edição do anuário de mercado, um livro sensacional para quem curte, se inspira ou trabalha com a indústria da dance music, que conta os fatos e acontecimento da temporada anterior. Temos também um prêmio, que será o 6º prêmio do RMC. Nos inspiramos no Oscar americano, no qual a votação é fechada para a academia. Nós temos 982 embaixadores, que são referências positivas em diversas áreas de atuação que fomos selecionando nesses 9 anos, desde artistas, produtores, donos de clubs, rádios, empresas de mídia, influenciadores, designers. Eles escolhem os indicados, e depois de uma segunda etapa que são classificados cinco indicados, eles apontam os melhores do ano em 16 categorias. A gente tem o tradicional Club Week, em que nos associamos aos tradicionais clubs, às festas independentes e aos movimentos locais da vida noturna de forma a divulgá-los. Queremos que as pessoas entendam que aquilo ali é um encontro, e passem não só os dias da conferência, mas que vão para as cidades e conheçam a cena noturna. No caso do Rio nós emendamos com o carnaval, e na Marina da Glória acontecem os shows mais mainstream. No ano que vem teremos também o D-Edge conosco, com uma programação um pouco mais alternativa para esses dias.

A Melhor Balada: Para finalizar: não sou DJ, não sou produtor e nem trabalho diretamente com a indústria, mas eu curto muito Música Eletrônica. Por que eu deveria ir no RMC?

Cláudio: Se você for fã de música eletrônica, é a oportunidade para você estar em contato com o processo criativo, com o backstage, que para a gente que trabalha na indústria é algo normal. Você vai ver seu ídolo ali na frente e ter a oportunidade de conversar e entender mais sobre essa perspectiva do trabalho dele. Também vai ter a oportunidade de participar de discussões sobre a cultura da música, de festivais, e entender mais sobre as várias possibilidades de trabalhar com esse meio. Você vai ver que há muitas oportunidades profissionais nesses setores que você também pode se envolver, ou até mesmo se inspirar para o seu trabalho atual. É uma chance de entender mais sobre o que te fascina. As pessoas viajam para festivais e estão sempre atrás de momentos sensacionais que grandes festas e grandes eventos proporcionam. Quantas vezes não vemos pessoas saírem de um Tomorrowland, por exemplo, dizendo que todos os problemas tinham sido esquecidos. A participação em uma conferência dessas te proporciona a entender um pouquinho mais sobre esse backstage, sobre como isso é feito da perspectiva da produção e do seu ídolo, que vai estar bem ali na frente falando como é feita essa magia. Isso tudo além de muitas outras coisas bacanas como discussões sobre a relação da música com as pessoas, a oportunidade de aprender mais sobre música e entender o poder que ela tem sobre o dia a dia das pessoas. No RMC Rio principalmente, vão rolar mais de 120 atividades, para todos os gostos. Com certeza você vai se encontrar em alguma das seis ou sete salas, para você sair de lá com a cabeça recheada de idéias e a alma lavada.

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Jode Seraphim

Jode Seraphim

Graduação em Marketing (USP); 1 ano de experiência em Marketing Digital na DHL (Alemanha); 12 anos de experiência nas áreas de marketing, mkt digital e trade. Onde encontrar: comemorando os fogos no mainstage

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