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Glastonbury – Como foi o mais lamacento festival do ano

Jode Seraphim
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Chegamos hoje do Glastonbury e acho que nem caiu a ficha ainda de tudo que vivemos nos últimos cinco dias. O festival é uma experiência quase que transcendental, parece que te levaram para um mundo paralelo e você vive a vida de uma forma tão intensa, numa vibe tão boa que fica bem difícil de explicar!  

Glastonbury


Foram dias e dias estudando o festival antes de ir. Depois de um check list imenso, cada uma fez duas malas de 15kg, e apesar da certeza de que não seria fácil carregar, estávamos com tudo pronto para ficar 5 dias acampadas por lá! A parte boa é que bebida e comida eram liberadas, então fizemos compras antes de ir e acabamos economizando bastante.

Saímos de Londres às 9 da manhã da quarta-feira, dois dias antes de começar o evento. Após 4h chegamos na última descida do trajeto, que dava uma boa vista do festival, e foi o suficiente para começar uma emoção geral na galera. Impossível desgrudar o olho da janela e realizar de que aquilo tudo realmente estava acontecendo. Para se ter uma ideia, são 200 mil pessoas e mais de 2000 apresentações em mais de 100 diferentes palcos. O lugar é enorme, impossível de acreditar que aquela “cidade” só existe por alguns dias no ano!  

Glastonbury


Descemos e já demos de cara com a lama, já que tinha chovido bastante nos dias anteriores. Descobrimos que pior do que carregar 30kg nas costas é carregar tudo isso parecendo que você está andando na areia movediça - praticamente um exercício de fortalecimento para as pernas.

Antes de ir tínhamos decidido ficar em uma área chamada Michael Mid, por ser próxima dos palcos principais, mas sem tanta muvuca. Chegamos umas 2 da tarde de quarta e o espaço já estava bem cheio, restando poucos pontos para montar acampamento. Achamos um cantinho e deixamos tudo pronto por ali! As pessoas em volta foram super solícitas, nossos vizinhos inclusive vieram oferecer um martelo para prender bem os pininhos da barraca!  

Glastonbury




O que mais fizemos durante os dois primeiros dias foi andar e explorar todas as áreas do Glastonbury, para entender como o festival era dividido. Cada uma com alguns palcos e suas barraquinhas de venda de roupas e de comida. Foi muito interessante passear por cada parte, já que o estilo das pessoas que acampavam era totalmente diferente dependendo do lugar.

Fomos até uma parte conhecida como Stone Circle e saímos do mundo tradicional dos ingleses para um mundo de hippies, praticamente voltando aos anos 70! No geral era impressionante a quantidade de gente fantasiada e vestida de jeitos totalmente não convencionais. Pais arrastando bebês em carrinhos no meio da lama, casais de idosos fazendo festa em barraquinhas, jovens bebendo e se divertindo, músicos tocando no meio do nada para quem quisesse parar para assistir. Todo estilo de pessoas e nenhum julgamento no ar, só aquela sensação de que ali você pode ser quem você quiser.  

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As opções de comida eram ótimas. Tinha muita alternativa, e você podia comer basicamente qualquer coisa que quisesse (tinha até uma barraquinha vendendo feijoada!). Nos 5 dias que passamos lá nos revezamos em vários tipos e nos deliciamos. A comida em média custava $6 / $7 libras, enquanto o refrigerante custava $2 e o pint de cerveja $5. A água era 100% potável e oferecida de graça em vários pontos do festival, principalmente perto dos banheiros. Falando nisso, estes eram peculiares, fechados individualmente mas a céu aberto, e em muitos lugares diferentes, o que fazia quase nunca ter fila.  

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Vimos uma queima de fogos na quarta à noite, passamos por várias pistas e fomos parar no after de música eletrônica no espaço Shangri-La. Assistimos o show da banda DMA’s só por que seguíamos o twitter secretglasto, que avisava sobre shows não anunciados. Descobrimos pistas menores mas com nomes conhecidos, como Dj Tennis, Seth Troxler e Tiga tocando para poucas pessoas.

Dois dias foram suficientes para descobrirmos que a lama tem estágios. Ela pode simplesmente existir ali e não te atrapalhar, com um barrinho na sola do sapato. Ela pode ficar totalmente líquida formando poças, que não atrapalham a caminhada mas te sujam bastante, e um terceiro estágio que fazia muitas pessoas escorregarem por lá, a lama pegajosa. Não era difícil andar normalmente e de repente ter um dos pés completamente preso no meio do barro! No começo nós achamos que aquela quantidade de lama era normal (praticamente não existia um lugar seco no festival, só nos campings mais afastados), só depois que ficamos sabendo que foi a edição mais lamacenta da história do Glastonbury! Que sorte a nossa poder desbravar um mundo novo de lama, há!

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Sexta-feira começou com um tempo que variava entre chuva e sol. Vivemos uma sequência de shows da Elle King, Two Door Cinema Club, The Lumineers e Editors, e resolvemos aproveitar que o tempo abriu para subir no ponto mais alto do festival e tirar umas fotos. Nesse dia eu tinha resolvido usar uma botinha da Bru, ao invés de usar minha galocha, e quando estávamos indo para o show da Corinne Bailey Rae a sola soltou e eu vivi um dos momentos mais nojentos e engraçados por lá. Voltei para a barraca caminhando por dois quilômetros, e demorei 40 minutos para fazer esse caminho, andando com a sola pendurada pisando na lama gosmenta. Um dos típicos perrengues por lá!

Depois disso fomos curtir Bastille e logo depois Muse, a principal atração do dia. O show estava muito cheio e muito animado, mas como nós já tínhamos visto duas vezes resolvemos sair na metade para assistir Sigur Rós, uma das bandas que queríamos ver nesses últimos tempos. Chegamos num palco pequeno sem muitas pessoas, e deu para ver e sentir o show de pertinho! Saímos de lá e fomos ver Maceo Plex. Levamos nossas tintas coloridas e começamos a interagir pintando rostos alheios. Quando vimos, estávamos com uma turma de ingleses curtindo a festa. Saímos de lá umas 3 da manhã em direção a Shangri-La, onde continuava tocando música eletrônica. O dia amanheceu lá pelas 5 e nós só percebemos que precisávamos dormir quando caiu uma chuva totalmente inesperada e nos deixou encharcadas para ir embora.  

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Sábado revezamos entre Wolf Alice, Band of Skulls, Kurt Vile, The Last Shadow Puppets e Tame Impala. Garantimos um lugar bom para o show mais aguardado do dia (ou do festival): Adele entrou no palco e fez um final de noite memorável e emocionante de uma forma que eu não tinha vivido um show antes. Muito simpática, conversou com público durante o tempo todo, levou dois fãs para o palco (incluindo uma brasileira) e ficou o tempo todo falando o quanto estava feliz pois o Glastonbury significava muito para ela. Com uma voz absurda, alguns erros e muitas gargalhadas, encantou todas as pessoas que assistiam sua performance. No final do show passaram no telão fotos de quando ela era criança no festival, e foi um dos momentos mais emocionantes da noite. Logo depois, antes de tocar a última música, ela afirmou que aquele estava sendo o melhor momento da sua carreira. O show foi de arrepiar e nós saímos totalmente em êxtase de lá.  

Glastonbury


Fomos dormir e começou a chuva de madrugada. Acordei com um molhado nas costas e resolvi acordar a Bru, que deu uma ideia genial. Ao invés de sair da barraca para tampar o furo no teto, deixamos um saco de lixo preto embaixo e voltamos a dormir como se nada tivesse acontecido. Sorte que a chuva parou logo e a poça dentro do saco foi bem pequena! Hahahaha

Acordamos num domingo chuvoso e já muito melancólico. Apesar de não aguentar mais andar na lama e não tomar um banho decente a dias (todos foram na base do biquíni fora da barraca jogando agua gelada na garrafa para fazer de chuveiro), o sentimento de que aquele mundo paralelo iria acabar era de muita tristeza! Saímos para comer, dar uma olhada nas lojinhas (a Bru ia enfartar se não tivesse entrado em pelo menos uma dúzia delas) e fomos para o show da Ellie Goulding.   Já tinha assistido dois shows dela e achado demais. Lembrava dela eufórica, cantando músicas mega animadas e conhecidas, mas o que vimos foi bem diferente: muitas músicas novas meio paradas, com muitas poses e pouca conexão com o público. No fim ela (quase que) justificou seu desânimo pelo momento que a Inglaterra está passando. Assim como outros vários artistas (incluindo Adele e Coldplay), fez questão de colocar seu posicionamento contra o resultado do referendo do Brexit. A maioria dos participantes do Glastonbury participou de uma enquete e mais de 80% também era contra essa decisão.  

Glastonbury


Saímos e fomos ver Of Monster and Men, e como o palco era pequeno, deu para ficar bem pertinho e curtir bastante o show deles. Ficamos na tenda para ver o comecinho do Mac Demarco e correr para pegar um lugar bom para ver Coldplay. Chegamos no palco principal e a multidão já estava pronta com suas pulseirinhas de LED para o começo do show. Chris Martin entrou no palco com sua empolgação de sempre, cantando vários hits e colocou todo mundo para pular na maior parte do show. Fizeram uma homenagem a banda Viola Beach, que faleceu num acidente de carro nesse ano, chamaram para o palco o Barry Gibbe, do Bee Gees, e terminaram o show com o dono do festival, Michael Eaves, cantando Frank Sinatra. Foram duas horas mega animadas, com as pulseirinhas dando as cores a cada música, e a multidão cantando junto em coro. Fechou com chave de ouro a programação do palco principal.  

Glastonbury


Fim de festa e nós tínhamos que pegar o ônibus de volta para Londres as 4 da manhã, então só tivemos tempo de cochilar uma hora na barraca antes de sair e enfrentar mais alguns quilômetros na lama, no escuro e com nossas malas pesadas nas costas.   Nesse momento que escrevo eu lembro do Glastonbury a cada minuto, é só me mexer que dói cada parte do meu corpo. Mas só consigo pensar o quanto esses dias vão ficar marcados na minha vida, por ter vivido uma experiência tão diferente de tantos outros festivais.

É muito marcante ver tantas famílias, crianças, jovens, idosos... todos com o mesmo espírito de não se preocupar com mais nada além de aproveitar 100% o tempo que estão ali. O Glastonbury não é só sobre um line up sensacional e uma estrutura de eventos de dar inveja a qualquer um. É sobre pessoas, sentimentos, conexões e momentos que serão lembrados para o resto da vida! Vale muito a pena, e se depender só da gente, nos vemos de novo em 2017!

Glastonbury

Dicas: Como sobreviver ao Glastonbury

Veja Também nosso guia com todas as informações atualizadas sobre o festival!

Jode Seraphim

Jode Seraphim

Graduação em Marketing (USP); 1 ano de experiência em Marketing Digital na DHL (Alemanha); 12 anos de experiência nas áreas de marketing, mkt digital e trade. Onde encontrar: comemorando os fogos no mainstage

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