Entrevista

Go Girl #22: Bruna Paz mostra sua identidade musical no projeto Lapax

Bruna Antero
We Go Out

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Entrevista

Bruna Paz é o nome por trás do projeto Lapax, que vem apresentando em suas produções autorais, músicas que combinam sua bagagem à pitadas ácidas e vocais cheios de significado. Com uma pesquisa musical que se origina no House, Hip Hop e até no Pop, sua identidade sonora se constrói da experiência com um público diverso e dançante. 

Os resultados do projeto são frutos de uma experiência na cena eletrônica de quase uma década, desde quando se dedicava como produtora de eventos no centro do RS em 2012. Quatro anos depois, deu start ao seu primeiro projeto musical, Duotone, que a permitiu experimentar e construir - ao lado de Victor Schmitt (Barbo), parte da sua história.

Lapax concilia a vida de mãe, produtora musical, DJ e host do programa Moonlight no canal Cultura Cosmo, na Twitch, onde desenvolve uma roda de conversa sobre a Cena Eletrônica e o Mercado Fonográfico.

Batemos um papo com Lapax para conhecer mais detalhes sobre seus projetos e suas referências musicais:

Hello Bruna! Tudo bem por aí? Conta pra gente um pouquinho de como tudo começou, o que te deu aquele clique inicial para trabalhar com música, quais são suas primeiras referências artísticas e quem mais te inspira!

Oi gurias! Feliz demais por compartilhar um pouco da minha trajetória com vocês! Obrigada pelo convite! Agora vamos fazer uma rápida viagem ao tempo :D

Tenho um histórico nas danças urbanas, que me apresentou a House dance lá em 2010, quando eu tinha 10 anos e participava de um evento de dança. Desde então, inspirada pelas danças e músicas que permeavam os dançarinos especializados no estilo, sempre me interessei pela música eletrônica (fosse ela hip hop ou eurodance haha). Essa preferência sonora se manteve presente até eu me formar na faculdade e finalmente trabalhar com música e design.

Em 2011, em função da faculdade, iniciei um projeto de festa na região, pela necessidade do dinheiro (para a formatura) e também pela falta de festas e eventos que trouxessem o DJ para um local de destaque nas festas, com uma estética sonora que fugisse do que estávamos acostumados. No ano seguinte, em 2012, tive a oportunidade de estudar na Aimec de Porto Alegre, e desde então, a discotecagem adentrou à minha rotina criativa, mesmo me dividindo com os trabalhos de design gráfico durante o dia, e que ainda permeiam minha vida profissional. Em 2016, tomei coragem para criar um projeto de música eletrônica ao lado do meu esposo, Victor e, assim, nasceu o Duotone. Discotecamos entre o House e o Techno pela região e logo sentimos vontade de estudar e aprender mais. Em 2018, tivemos a oportunidade de fazer o curso de Produção Musical com o Kalliane Costa, em Itajaí, e, após o nascimento do nosso filho Vini (no mesmo ano), optamos por focar em nossos projetos próprios, a fim de conciliar a criação dele com as nossas criações musicais.

Como começou seu projeto Duotone, junto com o Barbo? Como vocês se conheceram e como foi a experiência de ter um projeto em dupla, e quais aprendizados você poderia passar para as pessoas depois desse projeto?

Começou no momento em que ele estava quase virando meu roadie haha Em todas as festas, ele sempre esteve lá, carregando equipamento, me acompanhando em cada data, fazendo o front.. Uma noite, subindo as escadas de casa após uma festa, eu falei que não queria mais fazer aquilo sozinha, que sabia que ele queria também e que a gente poderia construir algo juntos. Naturalmente, o nome Duotone (inspirado na impressão em duas cores dentro da Fotografia) surgiu como algo que nos representava: amor e música em dois tons ?

O projeto nos trouxe muita maturidade de apresentação, pois sempre tinhamos um ao outro para dar o suporte por trás da cabine que o outro precisava, e transmitir tudo o que queríamos para a pista. Também nos fez perceber a necessidade de encontrarmos os pontos que identificavam um e outro, nos desafiando a criar dj sets que casassem nossas pesquisas musicais de forma criativa e interessante. Ter um companheiro de aprendizados e vivências na música, acelera muito nossa expansão como profissionais, e também nos permite co-criar coisas que sozinhos não conseguiríamos. ?

Nós imaginamos que a jornada no mercado da música sendo mulher possa ser muito mais complicada e cheia de obstáculos. Quais foram os maiores desafios que você já enfrentou nesse sentido? Como lidou com eles e quais foram seus desdobramentos?

Se vocês olharem para mim e para o Victor, notarão a diferença em tamanho e estrutura (hahaha). Isso, infelizmente, fez muitas vezes com que o homem grande fosse o porta-voz de nós dois, e eu sinto que, por muito tempo, me acomodei nessa posição porque era confortável para mim. A dificuldade de me inserir em lineups masculinos só se quebrou porque ele sempre me defendeu e apoiou, assim como tantos outros amigos homens (gays) que advogaram ao meu favor. Por muitos anos, senti certa desconfiança, em função da minha história com a produção de festas de outros estilos musicais, como se eu não estivesse pronta para estar no local dos outros djs/produtores homens que produziam as outras festas. Mas a verdade é que o mercado havia me colocado nessa caixinha e eu precisava me libertar disso. O meu projeto autoral, Lapax, que nasceu após me tornar mãe, e que surgiu após eu me questionar (por muitas vezes), se conseguiria lutar pelo meu sonho, me fez finalmente me enxergar como alguém que tinha o direito e o poder de estar lado a lado com aqueles mesmos djs e produtores que já duvidaram da minha capacidade. Hoje, me sinto acolhida, por eles e por elas, e quero cada vez mais trazer equidade dentro do nosso cenário para que outras mulheres não precisem se sentir assim como eu me senti.

Quais são suas principais referências femininas no mundo da música (eletrônica e em geral)? As outras artes, como design, artes plásticas, cinema etc. também te inspiram? Quais são suas fontes de inspiração?

Falando de inspirações e referências, hoje me inspiro muito em artistas que sabem transitar entre vertentes e estilos, um equilíbrio entre mainstream e underground, através dos seus sons e dj sets, então Eli Iwasa, Ella Whatt, noizzed, Aline Rocha, Ella de Vuono são algumas inspirações atuais brasileiras e, em escala mundial, Honey Dijon, Peggy Gou, Jayda G, Anna, Cinthie, Giorgia Angiuli e The Blessed Madonna são nomes que acompanho e me inspiro sempre!

Que conselhos você poderia dar para as produtoras jovens e iniciantes, inseguras de começar uma carreira na música? O que te ajuda a seguir motivada e se manter em movimento?

Se segurem nas pessoas que apoiam vocês e descartem da rotina qualquer pessoa/processo que pode tentar colocar o teu trabalho ou história para baixo. Naturalmente, essa conexão com pessoas que entendem a tua história e processo, vai se fortalecer e trazer bons frutos disso. É natural que não saibamos muita coisa no início, mas quando quem está do nosso lado sabe a importância do processo e do aprendizado envolvido, fica mais fácil ter paciência na construção da nossa própria confiança em si mesma. Além disso, nos cercar de pessas criativas, nos traz possibilidades de colaborações, convites para outros projetos e o que mais a criatividade permitir. 

Tenho amigos e amigas que discotecam e produzem música e que sempre estão me estimulando a criar e compartilhar ideias juntos e isso me nutre com força pra continuar nessa minha história de vida de criar junto à música. Também sempre tento estimular quem sempre esteve próximo a mim a colocar sua arte pro mundo, porque essa é a melhor herança que podemos deixar. É natural que a gente precise passar por coisas desagradáveis que vão nos fortalecer durante o processo, mas quando nos conectamos com que realmente nos traz paz de espírito, não devemos negar isso jamais.

Como funciona seu processo criativo para desenvolver uma track do zero?

No meu caso, tenho um template base com algumas sonoridades e instrumentos que curto e me identificam na produção e, geralmente, começo a criar pela melodia (que é algo que vem a mim com mais facilidade), com uma bateria bem básica. A partir disso, começo a ajustar e incrementar meu kit de bateria para ter uma ideia do que pode se originar dessa combinação básica (se vou pender para um house ou um techno, por exemplo haha). E ai crio um looping de instrumentos que faça sentido aos meus ouvidos. Aí é quando começo a criar combinações possiveis para um arranjo inicial. Depois disso, o processo varia. Às vezes, salvo e fecho o projeto e espero alguns dias para abrir de novo e ver se faz sentido seguir nessa ideia ou alterar alguma coisa, assim como às vezes começo a tratar meus instrumentos, mixando com mais atenção e incrementando o arranjo. Ainda não cheguei em uma fórmula 100% fechada, pois ainda tenho muito a aprender na produção, mas resumindo acho que é isso ai hehe

Conta um pouquinho de como foi o processo de criação do seu mais recente lançamento, a Nave Mulher?

Então, em 2020, a TPM (tpmtodaspelamusica), um projeto que iniciei junto à noizzed (dj e produtora de Florianópolis), foi convidada para assinar um dos palcos do carnaval da Cena 048 que aconteceu no Stage Music Park. Nesse dia, o palco foi assinado por mulheres na pré-produção, cenografia, produção do dia, mapping, performers e line up. e todas as djs inseriram em seus sets produções próprias ou músicas que traziam a mulher em pauta. Na tarde do evento, enquanto selecionava as músicas que levaria para o meu set, gravei um poema que havia escrito pensando nessa apresentação. Inseri a acapella junto à uma base já pronta minha e toquei ao final do set. A energia foi incrível, mas logo a pandemia veio e muita coisa precisou ser reestruturada e reorganizada na minha vida até que eu voltasse a produzir. 

Fiz mais alguns cursos à distância, para estimular minha produção musical durante 2020, e em fevereiro deste ano, após lançar We Will Dance Again pela Levels Records, senti que era hora de produzir uma música com vocal em português. O poema falado do carnaval logo veio à tona, e então comecei um novo projeto a partir desse mesmo vocal gravado pelo gravador do celular em fevereiro de 2020. Mostrei a ideia para a Fabi (noizzed), que logo disse para lançarmos pela Estufa Records (label independente que auxiliei no lançamento e direção de arte em 2018), e assim ela foi o meu lançamento em homenagem ao mês da mulher. Desde então, passei a me conectar cada vez mais com outras djs e produtoras mulheres, a fim de nos fortalecermos e aprendermos umas com as outras, e a Lisi da Cultura Cosmo, logo viu espaço para montarmos um programa na Twitch com foco nelas. Assim, nasceu o Moonlight.


Ouvindo aos seus sets e assistindo às lives e seus stories, conseguimos perceber que você é uma grande pesquisadora musical, e consegue ler muito bem a pista e a energia do público! Como funciona sua preparação para um set? Você tem algum ritual que sempre segue, ou é algo mais natural?

Sempre costumo fazer uma playlist para cada set ou apresentação, com muito mais tracks do que preciso hehe mas as lives na Twitch me dão liberdade para testar e explorar as pesquisas de eventos anteriores junto às músicas que pesquisei por último de uma forma bem mais leve e do momento. Pensando em como me preparo, a dinâmica é quase sempre a mesma: crio uma playlist no rekordbox com as últimas músicas que mais me impactaram durante minhas últimas pesquisas, além de sempre ter comigo playlists mais genéricas (warm up, house, acid ou techno, por exemplo) e começo a combinar as músicas novas com aquelas que já estão no meu case e que são especiais para mim. Naturalmente, o set nasce com inspirações atuais e outras já mais conhecidas por quem me acompanha, criando os sets na hora conforme o que o momento pede. Porém, quando preciso gravar podcasts, sempre preparo o set antes (mesmo que aconteça alguma alteração na hora de gravar, porque acredito que essa hora demanda mais atenção do que nas apresentações ao vivo, que são mais espontâneas.

Se você tivesse que escolher três momentos inesquecíveis da sua carreira como produtora, quais seriam eles?

Meu primeiro lançamento, Reset, pela gomarec, que trouxe letra e vocais meus, e abriu espaço para minhas seguintes criações com vocais e letras minhas: We Will Dance Again e Nave Mulher.

Quais são seus próximos passos como DJ e produtora? Tem alguma novidade que você possa contar pra gente?

Como Lapax, pretendo lançar um EP no segundo semestre de 2021, além de eu e Barbo estarmos com planos para reativar o Duotone de uma forma diferente do que fazíamos. Mas ainda não posso falar muito sobre isso, então até lá, segredo!

Quais são os clubs ou festivais em que você mais sonha em tocar?

Tenho os sonhos de tocar no Dekmantel e Burning Man em escala mundial, além de tocar em clubs e festas como a Caos, Carlos Capslock, Warung, Levels, Amazon, entre outros <3

Ficha Go Girl #22 - Lapax

Nome: Bruna Paz de CarvalhoNasceu onde: RSMúsica Favorita da vida: Show me Love (Robin S - a primeira música eletrônica que baixei na vida!)Collab dos sonhos: Colaborar com Cinthie ou Mall Grab que são duas referências para mim!Acompanhe mais no Instagram!

O quadro Go Girl, em parceria com a SOMUS, tem como objetivo dar destaque as DJs e/ou produtoras brasileiras que têm feito um trabalho incrível na cena.

Leia Também: Go Girl #21: Molothav vem incendiando a cena com seus lançamentos

Bruna Antero

Bruna Antero

Pós-Graduação em Engenharia de Marketing (USP); Graduação em Administração (UFPR PR); 13 anos de experiência nas áreas de marketing, trade e vendas. Onde encontrar: em algum palco underground explorando novos artistas e em alguns afters

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