Da mesma forma que no começo de 2020 parecia impossível pensar em um mundo sem festas, na metade de 2021 já começou a ser estranho pensarmos em como seria a volta dos eventos com uma grande quantidade de pessoas.
Duvido que ninguém aqui chegou a sonhar em estar em um evento lotado de pessoas e pensar: “Genteeee, como assim está todo mundo sem máscara? Abraçar ou beijar na boca de alguém desconhecido? Estão se aglomerando na frente do palco pra ver um DJ?” Tudo isso parecia um passado que não voltaria mais.
E aí começamos a ver a evolução da vacina (primeiro em outros países, e em câmera lenta no Brasil), e passamos a acreditar que é possível voltarmos a ter aquele sonhado festival, onde as pessoas se esbarram e pedem desculpas, sem o outro olhar com cara feia e pensar: “Será que ele está com covid? Preciso passar álcool em gel?”. E aí começamos a alimentar a expectativa da retomada dos eventos (das viagens, do barzinho lotado…)!
Parece meio injusto pensarmos em festas enquanto vemos tantas pessoas morrendo durante a pandemia, mas é importante deixar claro que durante esse período, não toleramos nenhum tipo de aglomeração (por favor, não vá à festas clandestinas), mas temos convicção de que música ao vivo é mais do que lazer, é como uma terapia para milhares de pessoas que, assim como nós, abstrai dos problemas do dia a dia para poder navegar em um mundo paralelo, onde só o que importa é a música, as pessoas ao redor, a experiência e aquele momento especial. É como se as energias se renovassem e pudéssemos nos preparar para uma nova etapa da vida pela frente.
Sem falar de todas as pessoas que vivem e conquistam seu ganha pão com a produção de eventos, seja de forma direta, como artistas, promoters, técnicos de som, fotógrafos, seguranças, ou de forma indireta, como vendedores ambulantes, donos de estacionamento, empresa de equipamentos de estrutura e audiovisual, e por aí vai… Finalmente está na hora de planejar o retorno dos eventos e torcer pra que os fornecedores de equipamentos, DJs, produtores, tenham conseguido sobreviver a esse tempo nebuloso e possam retomar suas atividades em um futuro próximo.
Se (quase) tudo parece perdido, pelo menos podemos nos inspirar em notícias como nos Estados Unidos e Reino Unido, de que o “novo normal” não é tão novo assim… As pessoas continuam sedentas por festas, querendo aproveitar até o último segundo e tirar o atraso de mais de um ano trancados em casa. Cuidados e exigências de segurança para evitar a propagação do vírus vão (e devem) passar a ser uma realidade, mas com um alto percentual da população vacinada, já será possível dividir uma pista com uma multidão.
Alguns exemplos de que estamos apenas em um hiato (a princípio, não é o apocalipse) é que a maioria dos eventos que estão sendo anunciados dentro e fora do Brasil estão tendo seus ingressos esgotados em pouquíssimo tempo. Será que um evento da Só Track Boa em um navio teria uma receptividade tão grande do público se tivesse sido lançado em 2019? Pacotes de mais de R$4.000 teriam sido concorridos com tanta pressa se as pessoas tivessem outros eventos em mente? Festivais internacionais como Lollapalooza Chicago e Creamfields UK bateram recordes de vendas, assim como alguns eventos de Réveillon no Nordeste anunciados recentemente, mostrando que a crise financeira pode ser menor do que a vontade das pessoas em comemorar a volta dos eventos.
Será que essa gana vai durar? Será que todos os eventos vão vender loucamente? Difícil saber. O que percebemos é que as marcas que vinham fazendo um trabalho sério e já se consolidaram terão grande espaço para o retorno e que as pessoas deverão valorizar mais os eventos locais. Sabe aquela festa com um DJ da sua cidade que está ganhando visibilidade e lançou ótimas tracks durante a pandemia? Vai valer a pena pagar o ingresso e conferir. Pelo menos no começo, não deverá ter mais aquela “guerra” de line up dos clubs para trazer o melhor DJ internacional do momento. Além de não sabermos se ele vai topar atravessar o Atlântico para tocar no Brasil, a cotação do dólar e do euro não vão ajudar. Então será a hora de valorizarmos o que temos em casa e realmente prestarmos atenção no que está sendo tocado.
Mesmo com mais de 13 anos consumindo música eletrônica, posso dizer que durante a pandemia foi a primeira vez que parei realmente para apreciar o que os produtores estavam lançando. Da mesma forma que os artistas começaram a produzir músicas mais introspectivas e menos “pra pista”, nós também começamos a entender mais o propósito de cada sonoridade, reconhecemos mais a identidade de cada músico e tivemos tempo para absorver o som que realmente gostamos.
Não estou dizendo que não vamos aproveitar a balada como antigamente, onde muitas vezes não sabemos quem está tocando e só damos atenção ao que movimenta nosso corpo, mas em algum momento da noite (ou do dia) vamos valorizar o que está por trás daquele set. Algumas pessoas já faziam isso, mas acredito que teremos cada vez mais amantes reais de música eletrônica dentro da pista.
O DJ vai tocar aquela “track” e nós vamos pensar: lembro de quando esse lançamento saiu e quantas vezes apertei o play dessa música em casa. Isso vai fazer nós aproveitarmos mais e darmos ainda mais valor para a música em si, que ao longo dos últimos anos pode ter ficado em segundo plano.
Não sei vocês, mas uma das únicas coisas que peço é que esse momento em que a pandemia esteja controlada chegue, e que tenhamos discernimento para fazermos boas escolhas, sendo nas festas que iremos, no controle de bebidas que consumiremos, e que a gente olhe pra trás e pense: mesmo com tudo de pior que esse período nos trouxe, a evolução da cena eletrônica e do entretenimento mudou para melhor e a gente consegue dar valor para as pequenas coisas, seja no sorriso de um barman, na virada perfeita de um DJ ou no abraço de um desconhecido que está ao seu lado e que sentiu a mesma emoção que você.
Nos vemos na pista em breve… Por enquanto se cuide, fique em casa e, se sair, use máscara e respeite as medidas de distanciamento.
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Bruna Antero
Pós-Graduação em Engenharia de Marketing (USP); Graduação em Administração (UFPR PR); 13 anos de experiência nas áreas de marketing, trade e vendas. Onde encontrar: em algum palco underground explorando novos artistas e em alguns afters